domingo, 15 de dezembro de 2013

Só me catives, se me quiser.



" Sois belas, mas vazias. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é porém mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus a redoma. Foi a ela que abriguei com o para-vento. Foi dela que eu matei as larvas. Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa."

Esse trecho hoje me fez pensar. Como um livro que li ainda criança poderia dizer tanto sobre minha vida hoje e me fazer refletir sobre uma ótica mais madura acerca desta abordagem.

Tenho vivido um tempo de cuidar da minha rosa, do meu coração. E zelar por ele, vigiar e tratar como se trata mesmo de uma bela flor. E pra isso foi necessário pô-lo sozinho, separado da multidão de corações, uns à procura dos outros, num anseio interminável de encontrar outro compatível, igual, encaixado para que assim a sua flor pudesse ser mais bonita. Agora, se eu não sou capaz de deixar a minha flor bonita, não seria egoísmo de mais sugar a beleza de outra flor, ou necessitar da beleza dela, só pra tornar a minha mais bela?

O que me entristece é ver como as pessoas alimentam outras flores próximas por vaidade. Muitas vezes não se quer deixa-la mais bonita, cuidar dela como cuidamos da nossa, se quer apenas a admiração dela ao olhar para nós, para que assim a nossa flor pareça a mais bela de todo o jardim. Alimentamos, mas não a embelezamos, pois não queremos. Queremos apenas os olhares e a sensação de ser admirado, cobiçado, amado. A falsa sensação. 

Vejo como grande crueldade isso. E por vezes imaturidade. É difícil de mas se retirar, se afastar e cuidar você mesmo da sua flor, sem olhos para venere-la, elogia-la, deseja-la. É difícil olhar pra si e ver a quantidade de cuidados que temos que ter conosco mesmo, o quanto nossas flores precisam ser vermifugadas, adubadas, regadas... cuidadas! É mais fácil pegar olhos admirados e fixa-los em nós alimentar o olhar deles, e não precisar mais sofrer com os cuidados que precisamos.

Mas eu escolhi separar a minha preciosa flor. E pra mim ela será a mais bela, pois do meu coração eu agora cuidarei com todo o zelo de um jardineiro apaixonado pelo que faz. E não voltarei as suas belezas para seduzir nenhuma outra, para que não me alimente da admiração delas. A beleza estará no retiro de minha flor, no seu sair de cena, para voltar em breve majestosa, bem cuidada para resplandecer uma graça, um brilho muito maior que ultrapassa os brilhos desse mundo. E não permitirei atrair olhares que não corresponderei e nem olharei para as flores sedutoras que querem somente sugar a beleza e o cuidado que tenho com a minha rosa.

Cative o seu coração mesmo, antes de querer cativar o dos outros. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

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